As arritmias são alterações anormais no número de batimentos cardíacos por minuto e no intervalo entre um batimento e outro. A freqüência e o ritmo do coração variam ao longo de um dia conforme a necessidade de oxigênio do organismo, já que a função desse órgão é bombear o sangue oxigenado pelos pulmões para todas as células do corpo. Quem regula essa atividade cardíaca, reduzindo-a ou acelerando-a de acordo com a demanda, é o sistema nervoso autonômico, que age sobre o sistema elétrico interno do coração, comandado pelo nó sinusal, que consiste em um grupo celular capaz de gerar estímulo elétrico. Esse impulso gerado no nó sinusal se propaga, gerando contrações sincronizadas das câmaras superiores e inferiores do coração, ou seja, dos átrios e dos ventrículos, que, assim, vão encaminhando adequadamente o sangue que por ali passa. As arritmias se manifestam quando ocorre algum problema na geração ou na condução desse estímulo elétrico, desorganizando a atividade do coração e, algumas vezes, provocando verdadeiros curtos-circuitos. Apresentam-se de diversas formas, variando conforme seu local de origem – no átrio, no ventrículo ou na junção entre essas câmaras – e a freqüência cardíaca que desencadeiam – bradicardia quando os batimentos ficam lentos, não chegando a 60 por minuto e taquicardia, quando o coração acelera, passando de 100 batimentos por minuto. A mais freqüente, porém, é a fibrilação atrial, que se origina no átrio e afeta 5% das pessoas na faixa dos 60 anos e 9% dos septuagenários. Além de poderem ser conseqüência de algum problema cardíaco anterior, as arritmias sinalizam irregularidades do sistema elétrico e doenças do coração ainda não-manifestas, como uma eventual insuficiência coronariana. Por isso, sempre precisam de investigação detalhada, mesmo porque alguns episódios arrítmicos, como os ventriculares, produzem uma desorganização tão grande que o coração pode parar de funcionar. |
"Muitas pessoas apresentam episódios arrítmicos durante o dia sem que percebam nenhuma manifestação, pois os sinais clínicos dependem do tipo de arritmia, da quantidade de ocorrências no dia, do número de batimentos atingido durante a crise e da presença de doença cardíaca prévia, entre outros fatores. De qualquer maneira, o distúrbio pode provocar desmaios seguidos de rápida recuperação, que decorrem da redução do fluxo sangüíneo no cérebro ou provocar sensação de palpitação. Em casos mais graves, a arritmia chega a se manifestar com confusão mental, fraqueza, queda de pressão arterial, falta de ar e dor no peito ou mesmo com parada cardíaca, requerendo, neste último caso, manobras emergenciais para restabelecer o funcionamento do coração. As arritmias podem ser decorrentes de distúrbios localizados no sistema elétrico do coração, que não afetam as demais estruturas do órgão, mas também de doenças do músculo cardíaco – o miocárdio –, das valvulas cardíacas ou das artérias que nutrem o coração, as chamadas coronárias. Por mecanismos distintos, essas moléstias alteram a condução do estímulo elétrico, produzindo a alteração no ritmo e na freqüência cardíaca. Existem também arritmias causadas por determinadas medicações, uso de drogas ilícitas, baixo teor de oxigênio no sangue, perda acentuada de sangue, água ou minerais e hipertiroidismo."
"É possível detectar a arritmia no consultório pela ausculta do coração, em associação com as queixas do indivíduo, mas há necessidade da realização de alguns exames cardiológicos para confirmar as alterações no ritmo e na freqüência cardíaca e buscar suas causas antes de determinar o tratamento. Entre os recursos mais utilizados, destacam-se o eletrocardiograma, que mede atividade elétrica do coração, o ecocardiograma, um tipo de ultra-sonografia que pode identificar doenças cardíacas que estejam causando a arritmia, o teste de esforço, que investiga a saúde das coronárias e o comportamento do ritmo cardíaco durante a atividade física, e o holter, um eletrocardiograma de 24 horas, feito por meio de um gravador preso à cintura da pessoa, que permite ao médico identificar os episódios arrítmicos e relacioná-los com as atividades e com os sintomas descritos pelo indivíduo naqueles momentos."
"A abordagem terapêutica depende do tipo de arritmia. Quando existe um distúrbio na condução do estímulo elétrico, que geralmente resulta em bradicardia, o tratamento normalmente é feito com o implante cirúrgico de um marca-passo, um aparelho capaz de fazer o trabalho no nó sinusal, gerando artificialmente os impulsos. Já arritmias que produzem taquicardia ou batimentos adicionais decorrentes de problemas na geração do impulso elétrico – como a fibrilação atrial – são tratadas inicialmente com medicamentos antiarrítmicos, mas a correção definitiva pode exigir a cauterização do foco em que o estímulo nasce indevidamente. Minimamente invasiva, essa intervenção é feita por meio de um tubo bem fino – um cateter –, que, introduzido em uma veia do braço ou da perna, alcança a área a ser corrigida, guiado por um método de imagem, e ali desativa o gerador indevido. Nos casos de arritmias malignas, o tratamento precisa começar com uma cardioversão com desfibriladores – os mesmos usados em situações de ressuscitação cardíaca –, realizada para restaurar o ritmo cardíaco do indivíduo e tirá-lo da zona de perigo, e prosseguir com medicamentos ou mesmo com o implante de um desfibrilador externo sobre o tórax, o qual monitora o coração e, ao identificar uma arritmia desse tipo, aplica automaticamente o choque local. As alterações geradas por fatores externos, como medicamentos ou hipertiroidismo, costumam melhorar com a supressão do fator desencadeante ou com o tratamento específico da enfermidade em questão. Não há medidas para evitar os problemas pontuais na geração ou na condução do impulso elétrico no coração. Porém, é possível prevenir, com uma alimentação saudável e com a prática constante de atividade física, outras doenças cardíacas que podem dar origem a desorganizações na atividade elétrica desse órgão. Da mesma forma, é importante não exagerar no consumo de álcool e cafeína, manter distância do cigarro e não usar medicamentos sem prescrição médica. Uma boa medida de prevenção consiste em visitar periodicamente um cardiologista a partir dos 40 anos e idade para monitorar a saúde cardíaca e os fatores de risco para doenças do coração, entre os quais os níveis sangüíneos de glicose, de colesterol e dos hormônios produzidos pela tiróide, especialmente quem tem história pessoal ou familiar de doenças cardiovasculares."