A queilite é uma inflamação nos lábios que pode ter diferentes apresentações, embora quase sempre com dor e comprometimento estético da região. As principais formas da doença incluem a queilite actínica, a angular, a de contato e a esfoliativa, cada qual com variações nas manifestações e no desenvolvimento. A actínica é considerada uma lesão pré-maligna, ou seja, em que há possibilidade de evolução para o câncer se não houver correto tratamento e acompanhamento. Ela ocorre com maior freqüência em homens brancos acima de 40 anos, que se expuseram muito ao sol. Já a angular, popularmente conhecida como "boqueira", é a mais comum dessas inflamações. Ao contrário da actínica, trata-se de uma manifestação benigna, que aparece nos cantos da boca, às vezes com períodos de melhora e recaídas, dependentes dos fatores que a desencadeiam. Por sua vez, a queilite de contato, como sugere a denominação, provém da exposição labial a quaisquer substâncias químicas. E a esfoliativa, por fim, consiste em uma manifestação crônica de escamação superficial dos lábios, mais freqüente em meninas e mulheres jovens. Em comum, todas as apresentações da doença merecem atenção médica especializada, uma vez que, dada a variedade dos processos inflamatórios, o tratamento precisa ser individualizado e voltado não só a atenuar os sintomas, mas sobretudo eliminar o que os origina. |
"Todas as queilites produzem lesões nos lábios, porém com particularidades inerentes a cada tipo de inflamação. A actínica acomete quase exclusivamente o lábio inferior, que perde sua coloração uniforme ou, então, adquire uma tonalidade forte de vermelho. Outra característica é a perda da linha de delimitação do vermelho do lábio com a pele, que chega a dar o aspecto de estar borrada. Com o tempo a região passa a descamar e se torna ressecada e áspera. O surgimento de feridas locais pode indicar que a inflamação se transformou em uma lesão maligna. Por sua vez, a angular afeta os cantos da boca, causando ligeiro inchaço, vermelhidão, descamação e rachaduras que se estendem para a pele, além de dor e ardência local. A queilite de contato cursa da mesma maneira, só que em toda a extensão labial, e não apenas nos ângulos, formando também pequenas bolhas, cheias de líquido. Já a esfoliativa determina descamação persistente e aumento da espessura dos lábios. Nas apresentações mais raras, pode haver ainda salivação volumosa, crostas e lesões com pus. As causas igualmente variam de acordo com o tipo de inflamação. A queilite actínica é provocada pela exposição solar sem proteção – não é à toa, portanto, que se trata de uma lesão que pode evoluir para o câncer. Já a queilite de contato se deve a reações alérgicas a determinadas substâncias químicas. Entre os produtos mais envolvidos em tais casos, merecem destaque os batons, alguns alimentos, medicamentos tópicos, pastas de dente, colutórios (para bochechos e gargarejos), materiais odontológicos e instrumentos musicais de sopro, além de canetas e de outros objetos levados à boca de modo compulsivo. A queilite esfoliativa pode ser decorrente de disfunções da tiróide e de doenças auto-imunes, mas muitas vezes não é possível identificar sua origem. Pode estar ainda associada ao hábito de morder e lamber repetidamente os lábios. A forma mais comum da queilite, a angular, tem o envolvimento isolado ou combinado de vários fatores, como é o caso de agentes infecciosos, deficiências nutricionais, inflamações de pele, alergias alimentares, debilidade do sistema imunológico – tanto a ocasionada por doenças quanto a provocada por tratamentos –, acúmulo de saliva e aspectos mecânicos, a exemplo de má oclusão da boca, queixo projetado para a frente e uso de próteses dentárias mal adaptadas. Nas queilites mais raras, geralmente não há causa conhecida."
Como o aspecto das lesões costuma ser bastante característico, o dermatologista já pode suspeitar do tipo de inflamação pelo exame físico e pela história do indivíduo. No caso de uma mulher que relate o início dos sintomas depois de ter usado um novo batom, por exemplo, a origem do processo inflamatório fica evidente. Contudo, na maioria das vezes, é preciso buscar a fonte da inflamação, tanto por meio da análise laboratorial de material raspado da lesão, para a pesquisa de agentes infecciosos, quanto por meio de uma biópsia do local. Além disso, a avaliação do estado geral de saúde do portador da doença é importante, uma vez que, muitas vezes, a queilite sinaliza que algo não vai bem no organismo.
"A abordagem terapêutica se dirige a combater o que está por trás da inflamação. Na queilite actínica, a lesão pode ser removida com a aplicação local de cremes específicos para destruir as células alteradas e, nos casos mais graves, com procedimentos cirúrgicos. A terapia fotodinâmica é um método moderno, que permite não só eliminar as células malignas, mas também prevenir o aparecimento de novas lesões. É um método pouco invasivo, que associa a utilização de uma luz especial a um creme aplicado nas áreas afetadas. As recaídas podem ser evitadas com o uso de protetor solar labial constantemente. Já na queilite angular, há necessidade de eliminar os fatores desencadeantes da manifestação, o que pode exigir o combate ao agente infeccioso com antimicrobianos tópicos, a adequação da prótese dentária, o tratamento da deficiência nutritiva com suplementos e a correção do problema mecânico, que, não raro, requer até cirurgia. No tratamento da queilite de contato pode ser necessário o uso de corticóides de ação local ou mesmo sistêmica, além, é claro, a suspensão da utilização da substância química envolvida no processo alérgico. Por não ter causas bem definidas, a forma esfoliativa da doença também pode ser atenuada com medicamentos, mas, em algumas situações, é preciso contar com a ajuda de medidas terapêuticas contra a ansiedade, como a psicoterapia, uma vez que essa apresentação pode estar relacionada com o hábito compulsivo de morder os lábios. Algumas medidas são fundamentais para prevenir as diversas apresentações da queilite, como a aplicação continuada de protetores solares labiais, que vale particularmente para as pessoas que passam muito tempo expostas ao sol, e a supressão do hábito de pôr objetos na boca, uma vez que eles carregam micróbios diversos, e de morder ou lamber repetidamente os lábios, já que o trauma e a constante umidade favorecem processos inflamatórios. Quem usa próteses dentárias precisa cuidar muito bem da limpeza e da desinfecção desse acessório, por se tratar de uma fonte potencial de contaminação com fungos e bactérias. Convém salientar que, diante de qualquer sintoma labial, é importante buscar rapidamente a avaliação de um especialista, sem jamais recorrer a soluções caseiras, que não só podem piorar a inflamação como também postergar o diagnóstico – algo que, na forma actínica, facilita a evolução do processo inflamatório para o câncer."