Descrita há mais de 150 anos por Prosper Ménière, a doença de Ménière (DM) caracteriza-se por perda auditiva neurossensorial flutuante e para sons de baixa frequência, tinnitus/zumbido e plenitude aural, bem como por ataques vertiginosos com duração de, pelo menos, 20 minutos.
Em 2015, sua classificação foi simplificada em duas categorias: DM definida e DM provável. Ainda assim, o diagnóstico clínico mostra-se desafiador, sobretudo na fase inicial, quando os sintomas são transitórios e incompletos.
Classicamente, a ressonância magnética (RM) vem sendo utilizada para a exclusão de condições com
quadro clínico semelhante, como schwannomas vestibulococleares, labirintite, terceira janela e outras afecções do labirinto e do sistema nervoso central.
Hoje, no entanto, o uso de uma sequência dedicada FLAIR 3D, realizada quatro horas após a administração intravenosa do gadolínio, com imagens obtidas em equipamento de 3 T, trouxe avanços significativos à propedêutica da DM. Isso porque, dessa forma, o método consegue detectar a base histopatológica dessa doença – a hidropsia endolinfática.
Caso clínico
Paciente do sexo masculino, 50 anos, em investigação de crises episódicas de vertigem, bem como com queixa de sensação de ouvido tampado do lado esquerdo e zumbido. Foi referido ao serviço para se submeter a uma RM com protocolo de Ménière. O exame evidenciou hidropsia vestibular e coclear, como mostram em detalhes as imagens 1 e 2.
Imagem 1. RM aponta realce assimétrico da perilinfa, mais intenso na espira basal da cóclea do lado esquerdo (seta vermelha). A seta amarela indica a espira basal da cóclea direita com realce habitual.
Imagem 2. RM evidencia obliteração quase completa do vestíbulo esquerdo (seta azul), com fino realce periférico pelo contraste da perilinfa e distensão confluente do sáculo e utrículo, que denota hidropsia vestibular. Nota-se também hidropsia coclear (seta vermelha), demonstrando uma pequena “falha de enchimento” na escala média da cóclea esquerda – foco de hipossinal sem realce, que indica dilatação do ducto coclear/escala média. Perceba o aspecto habitual do sáculo (seta verde) e do utrículo (seta amarela) direitos.
Discussão
O contraste intravenoso normalmente impregna a perilinfa, uma vez que sua barreira hematoperilinfática é permeável. Já a endolinfa, composta pelo ducto coclear/escala média, sáculo, utrículo, ampola e ductos semicirculares, é impermeável e não se impregna.
Na DM, os espaços endolinfáticos se “dilatam” e reduzem o calibre dos espaços perilinfáticos circunjacentes. Assim, na hidropsia coclear, a escala média/ducto coclear fica dilatada e a escala vestibular, reduzida. Na hidropsia vestibular, o sáculo aumenta e fica com tamanho igual ou superior ao utrículo, ambos confluindo-se em fases tardias.
Quando a doença é unilateral, há também uma impregnação assimétrica e mais intensa da perilinfa no lado afetado, tanto da cóclea quanto no vestíbulo, visto que a permeabilidade da barreira hematoperilinfática aumenta. Vale ressaltar que, mesmo em pacientes com doença unilateral, a RM pode demonstrar hidropsia endolinfática na orelha assintomática, sugerindo que, com o tempo, a doença se torne bilateral.
A avaliação conjunta da hidropsia vestibular e do realce perilinfático coclear tem elevada sensibilidade e pode auxiliar o diagnóstico da DM.
Conclusão
A avaliação por RM exibe papel crescente para o diagnóstico, estadiamento, diagnóstico diferencial e planejamento do tratamento da DM.
O Fleury conta com uma equipe multidisciplinar para auxiliar os médicos nessa investigação diagnóstica, além de um parque moderno de equipamentos, incluindo magneto de 3 T com protocolo específico para DM, disponível na Unidade Ponte Estaiada.
O paciente pode contar ainda com uma ampla gama de outros testes laboratoriais e audiométricos, que, interpretados em conjunto com o quadro clínico, fornecem dados que permitem o diagnóstico e o estadiamento apropriados da condição.
CONSULTORIA MÉDICA
Neuroimagem
Dr. Bruno Casola Olivetti
Dr. Carlos Jorge da Silva
Dr. Carlos Toyama
Edição dedica suas páginas principais ao teste genético de avaliação da microbiota intestinal.
Como os testes diagnósticos de imagem desempenham papel fundamental no diagnóstico.
A ressonância magnética apoia o diagnóstico até mesmo antes da manifestação dos sintomas
Ressonância magnética permite a confirmação da síndrome e é alternativa à manometria por agulha.