Como interpretar os testes confirmatórios de hiperaldosteronismo primário

Testes confirmatórios de hiperaldosteronismo primário

Teste da infusão salina 

Modo de execução: 

• Consiste na infusão de 2L de SF 0,9% em quatro horas com coletas de aldosterona antes e após  a infusão 

• Medicações como espironolactona, amilorida e  eplerenona devem ser suspensas quatro semanas antes do exame 

Interpretação: 

• Aldosterona acima de 10 ng/dL após a infusão  confirma o diagnóstico de hiperaldosteronismo  primário, enquanto valores entre 5 e 10ng/dL  sugerem a doença 

• Aldosterona inferior a 5 ng/dL descarta esse  diagnóstico

Efeitos adversos  e contraindicações: 

• Pode causar efeitos secundários à sobrecarga hídrica 

• Contraindicada em casos de idade avançada,  hipertensão arterial grave, hipocalemia grave,  insuficiência renal, insuficiência cardíaca congestiva,  arritmia cardíaca e doença cerebrovascular ou infarto  agudo do miocárdio recentes (que tenham ocorrido  há menos de seis meses)

Teste do captopril 

Modo de execução: 

• Consiste na medida de aldosterona e atividade  plasmática de renina antes e após a administração de  50 mg de captopril 

• Medicações como espironolactona, amilorida e eplerenona devem ser suspensas quatro semanas  antes do exame 

• Captopril e outros inibidores da ECA precisam  ser interrompidos 14 dias antes

Interpretação: 

• Aldosterona plasmática superior a 12 ng/dL  com atividade plasmática de renina suprimida  e supressão da aldosterona plasmática inferior a  30% confirmam o diagnóstico de hiperaldosteronismo primário

Efeitos adversos  e contraindicações: 

• É possível observar cefaleia e lipotimia 

• Hipersensibilidade ao captopril e a outros inibidores da ECA contraindicam o exame

Teste da furosemida 

Modo de execução: 

• Consiste na medida de atividade plasmática  de renina após posição ortostática por duas  horas e aplicação de 40 mg de furosemida por  via endovenosa 

• Medicações como espironolactona, amilorida  e eplerenona devem ser suspensas nas quatro  semanas que antecedem o exame

Interpretação: 

Atividade plasmática de renina abaixo de  2ng/mL/h após furosemida e ortostase confirmam  o diagnóstico de hiperaldosteronismo primário

Efeitos adversos  e contraindicações: 

• Existe a possibilidade de ocorrência de cefaleia,  lipotimia e hipotensão arterial 

• A hipersensibilidade à furosemida contraindica  o exame

Teste da postura - utilizado para  confirmação etiológica

Modo de execução: 

• Consiste na coleta basal de atividade plasmática  de renina, aldosterona e cortisol após repouso absoluto por 40 minutos, seguida da coleta de atividade plasmática de renina, aldosterona e cortisol após  duas horas em ortostase 

• Medicações como espironolactona, amilorida e eplerenona não precisam ser retiradas para  realização do exame

Interpretação*: 

• Adenomas produtores de aldosterona: 

concentração e aldosterona plasmática inalterada ou diminuída em relação à basal 

• Adenomas produtores de aldosterona responsivos  à angiotensina: elevação da concentração de  aldosterona plasmática superior a 30% da basal 

• Hiperaldosteronismo idiopático: incremento de  3 a 4 vezes em relação à concentração basal de  aldosterona, com elevação da aldosterona plasmática superior a 30% da basal 

• Hiperplasia adrenal primária: concentração de  aldosterona plasmática inalterada ou diminuída em  relação à basal

Efeitos adversos  e contraindicações: 

• Não há efeitos adversos 

• Contraindicado para pacientes que não consigam  manter a posição de ortostase por duas horas

*OBS.: Em caso de incremento do cortisol plasmático,  deve-se verificar o incremento em % da aldosterona  e subtrair do incremento em % do cortisol.

Feocromocitoma/ Paraganglioma 

Trata-se de tumores neuroendócrinos raros, de células  cromafins, responsáveis por 0,1% a 6% das causas de HA  secundária. Quando localizados na medula adrenal, denominam-se feocromocitomas e, quando nos gânglios  simpáticos, denominam-se paragangliomas ou feocromocitomas extra-adrenais. Em estudos de necropsias,  75% são diagnosticados post-mortem, com contribuição direta do tumor para o óbito em 55% desses casos. Em sua maioria, produzem, secretam e metabolizam as  catecolaminas, assim como diversas outras substâncias.  

Ademais, caracterizam-se por sua ação hipercinética, vasoconstritora e hipovolêmica.

Quando suspeitar? 

• HA paroxística (paroxismos: palpitações, sudorese  e cefaleia) 

• HA com início antes dos 30 anos e após os 50 anos  de idade 

• HA sustentada grave e normalmente refratária ao tratamento com três classes de drogas anti-hipertensivas em  doses otimizadas, sendo uma delas um diurético tiazídico 

• HA desencadeada por fármacos (betabloqueadores clorpromazina, droperidol), cirurgias, partos ou alterações na pressão abdominal 

• Cardiomiopatia dilatada 

• HA e nódulo adrenal sugestivo de feocromocitoma/  paraganglioma na tomografia computadorizada (TC) ou  na ressonância magnética (RM) – lesão na TC com valor  de atenuação na fase pré-contraste acima de 10 UH e  washout <60% ou lesão na RM com hipersinal na  sequência T2 e ausência de perda de sinal na sequência  fora de fase 

• Síndrome de Takotsubo 

• Hipertensão com hipotensão ortostática 

• Hipotensão ortostática 

• História pessoal ou familiar de feocromocitoma ou  síndromes genéticas associadas a esse tumor, como  NEM2A, NEM2B e síndrome do Paraganglioma Familial  

• Sd. de Von Hippel Lindau (Veja quadro sobre painel genético para investigação  desses casos)

Como rastrear? 

Plasma: 

• Metanefrinas plasmáticas - coleta após punção, em  posição supina e repouso de 30 minutos 

• Cromogranina A



Urina de 24 horas: 

• Metanefrinas fracionadas

Prova funcional: 

• Teste da clonidina: indicado quando a dosagem de  metanefrinas plasmáticas estiverem 2-4 vezes acima  do limite superior do valor de referência

Não recomendados: 

• Ácido vanilmandélico 

• Catecolaminas plasmáticas e urinárias

Cuidados na coleta 

É preciso suspender, nos sete dias que antecedem a  coleta, o uso de descongestionantes nasais, broncodilatadores, levodopa, antidepressivos tricíclicos, benzodiazepínicos, buspirona e antipsicóticos.

Painel genético para  Feocromocitoma/Paraganglioma 

Utilizando a técnica de sequenciamento de nova  geração (NGS), o teste avalia 24 genes associados a esses tumores e está indicado para todos os  pacientes com feocromocitoma/paraganglioma,  uma vez que aproximadamente 25% dos feocromocitomas e 50% dos paragangliomas apresentam  variantes alélicas patogênicas da linhagem germinativa. Além de servir para o acompanhamento dos portadores, a identificação da variante alélica patogênica auxilia o clínico na predição de  síndromes genéticas, das quais esses tumores  podem fazer parte, e na predição de aumento do  risco de malignidade. O exame ainda contribui para o  diagnóstico precoce de tumores renais, hipofisários,  pancreáticos ou outros tumores neuroendócrinos  associados à síndrome.

Genes pesquisados: ATM, DLST, EGLN1, EGLN2, FH,  EPAS1 (HIF2A), HRAS, KIF1B , MAX, MDH2, MEN1 ,  MERTK , MET, NF1, RET, SLC25A11, SDHA, SDHAF2,  SDHB, SDHC, SDHD, TMEM127, TP53 e VHL (inclui  promotor).



Referência Bibliiográfica: 

Vaidya A et al. Primary aldosteronism: stateof-the-art review. Am J Hypertension 2022.  https://doi.org/10.1093/ajh/hpac079

Consultoria médica:

Dr. José Viana Lima Junior 

Consultor médico em Endocrinologia 

[email protected]

Dra. Maria Izabel Chiamolera 

Consultora médica em Endocrinologia 

[email protected]

Dr. Pedro Saddi 

Consultor médico em Endocrinologia 

[email protected]

Dra. Rosa Paula M. Biscolla 

Consultora médica em Endocrinologia 

[email protected]