Eflúvio telógeno

A condição se caracteriza por perda excessiva de fios na fase normal de queda do ciclo capilar.

O fio do cabelo tem um ciclo, denominado ciclo capilar, caracterizado por três fases: uma de crescimento (anágena), uma de parada do crescimento (catágena) e uma de queda do fio (telógena). Esse ciclo pode durar de dois a cinco anos, de modo que todos os dias há queda de cabelos e nascimento de novos fios. Assim, é normal caírem diariamente cerca de 100 fios, sem que isso signifique que exista alguma alteração.

Considerado uma das causas mais comuns de alopecia não cicatricial, o eflúvio telógeno, por sua vez, é uma forma de queda de cabelo brusca, intensa, temporária e reversível. Ocorre uma sincronização de vários fios ao mesmo tempo na fase telógena, o que aumenta sobremaneira a quantidade de fios que caem diariamente, além do normal, podendo chegar a uma queda de mais de 600 fios por dia.

A incidência da condição não é totalmente conhecida, visto que muitos casos têm apresentação subclínica. Afeta tanto os homens quanto as mulheres, com incidência maior no sexo feminino. Mulheres idosas podem exibir maior predisposição a desenvolver o quadro após eventos desencadeantes.

O eflúvio telógeno pode ser agudo ou crônico. No primeiro, o início da queda é inferior a seis meses e geralmente ocorre de dois a três meses após a exposição ao evento. A etiologia permanece desconhecida em cerca de 30% dos casos, mas se observa remissão em cerca de 95% das pessoas com a condição, entre as quais homens e especialmente mulheres de qualquer idade, incluindo crianças. Já na forma crônica, a duração da queda passa de seis meses e há fatores desencadeantes persistentes ou múltiplos. Esse quadro se manifesta sobretudo em mulheres de meia-idade.


Etiologia

Pode ou não haver um gatilho, ou seja, uma causa desencadeadora da queda, ocorrida cerca de seis meses antes de os fios começarem a cair.


Potenciais causadores do eflúvio telógeno:

  • Estresse (físico ou emocional): trauma, febre, sangramento
  • Anemia, defi ciência de zinco
  • Infecção sistêmica: bacteriana e viral, inclusive após a infeção por Covid-19
  • Dietas restritivas (vegetarianos são considerados grupos de risco)
  • Pós-cirurgias
  • Pós-parto
  • Pós-cirurgia bariátrica
  • Alterações hormonais, como hipotiroidismo ou hipertiroidismo
  • Doenças como amiloidose sistêmica, insufi ciência renal crônica, doença infl amatória intestinal, afecções autoimunes (dermatomiosite, lúpus eritematoso sistêmico), psoríase, dermatite seborreica
  • Uso de alguns medicamentos, como contraceptivos orais, androgênios, retinoides, betabloqueadores, inibidores da ECA, anticonvulsivantes, antidepressivos e anticoagulantes. Em geral, a queda se inicia após 12 semanas de uso.


Diagnóstico

O diagnóstico baseia-se na avaliação de um médico dermatologista por meio de anamnese, avaliação clínica e exames laboratoriais. Ao exame, a perda dos fios é difusa, em todo o couro cabeludo e frequentemente mais aparente na região bitemporal (figura 1). A região occipital também parece mostrar predomínio de fios na fase telógena. Na maioria dos casos, não se vê queda de cabelo em mais da metade do couro cabeludo. A presença de sinais como descamação, inflamação e pústulas sugere outros problemas. Também pode ser observada, no eflúvio telógeno, queda de cabelo em outras partes do corpo, como sobrancelhas e região genital.

Figura 1: ao exame, a perda dos fios é difusa, em todo o couro cabeludo e frequentemente mais aparente na região bitemporal.

Quanto aos exames complementares, a tricoscopia (figura 2) pode ser realizada para avaliação da qualidade dos fios e também dos folículos do couro cabeludo, auxiliando o diagnóstico diferencial de alopecias. Na forma aguda, os folículos estão vazios e se encontram fios curtos em crescimento, porém de espessura normal. Já na crônica, verifica-se maior proporção de unidades foliculares de fio único, sem diferença nas áreas frontal e occipital. Os principais diagnósticos diferenciais incluem alopecia areata, alopecia de tração, alopecia frontal fibrosante e alopecia androgenética.


Figura 2: a tricoscopia pode ser realizada para avaliação da qualidade dos fios e também dos folículos do couro cabeludo, auxiliando o diagnóstico diferencial de alopecias


Exames de análises clínicas podem ser úteis na identificação dos eventos desencadeantes e incluem hemograma completo, urina tipo I, ferritina sérica, zinco, T3, T4 e TSH.

A biópsia do couro cabeludo geralmente não é necessária para o diagnóstico de eflúvio telógeno, sendo reservada apenas para diferenciar o quadro de outras causas de alopecia, como a areata.

O tratamento do eflúvio telógeno depende do correto diagnóstico do fato gerador da queda capilar, afastando as causas para interromper esse processo e possibilitar, em geral após dois a três meses, a recuperação dos fios.


Consultoria Médica 

Dra. Andressa Sato Aquino Lopes
Consultora médica em Dermatologia
[email protected] 

Dra. Lilian Licarião Rocha
Consultora médica em Dermatologia
[email protected] 


Referências:

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