Dr. Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva*
Os avanços em campos diversos como genômica, proteômica e biologia molecular possibilitaram a identificação de biomarcadores que possuem utilidade clínica em Oncologia, desde a estimativa do risco de câncer até a predição de resposta ao tratamento. Em termos de terapêutica, a identificação de mutações em oncogenes associados com o câncer pode diferenciar pacientes que apresentam maior probabilidade de obter benefícios com o tratamento direcionado. Um desses exemplos é a detecção de mutações no gene do receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR).
O EGFR é uma proteína transmembrana com atividade quinase citoplasmática que exerce transdução de sinalização do fator de crescimento do meio extracelular para a célula, uma via associada com crescimento e sobrevida celular, sendo expresso em mais de 60% dos casos de carcinoma de pulmão de não pequenas células (NSCLC, na sigla em inglês), que representa a maioria (85%) dos casos de câncer de pulmão – o adenocarcinoma é o tipo histológico mais frequente. Por essa razão, o EGFR tornou-se um importante alvo para o tratamento de tais tumores, levando ao desenvolvimento de inibidores do domínio quinase desse receptor, como os inibidores da tirosinoquinase (TKI, na sigla em inglês), a exemplo do erlotinibe e do gefitinibe, que previnem a ativação dessas vias de sinalização e melhoram a sobrevida em pacientes selecionados com NSCLC.
As mutações mais frequentes no gene EGFR são encontradas nos éxons 18, 19, 20 e 21 e podem estar presentes em indivíduos que nunca fumaram, em pessoas do sexo feminino e nos tumores com histologia de adenocarcinoma. Apesar de as características clínicas e histopatológicas correlacionarem-se com alterações genéticas, somente o teste molecular por meio da técnica de reação em cadeia da polimerase é considerado efetivo para identificar os casos com mutações no EGFR. As associadas com sensibilidade aos TKI, e que ocorrem com mais frequência, incluem deleções do éxon 19, L858R, L861Q e G719A/C/S, estando relacionadas a taxas de resposta superiores a 70% em pacientes tratados com erlotinibe e gefitinibe, de acordo com alguns estudos. Dessa forma, a terapia inicial com TKI, em lugar da quimioterapia, vem sendo sugerida como a melhor escolha terapêutica para pacientes com NSCLC avançado com mutações no EGFR. Por outro lado, alterações como T790M e inserção no éxon 20 condizem com resistência aos TKI.
Em 2011, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica emitiu uma opinião clínica sobre a utilidade do teste de detecção de mutações no gene EGFR para pacientes com NSCLC avançado nos quais a terapia de primeira linha com TKI está sendo considerada. Após a análise dos resultados de cinco estudos clínicos randomizados de fase III, a entidade passou a recomendar que esses indivíduos realizem o exame previamente para determinar se, de acordo com o significado das mutações encontradas, esse tratamento é mesmo a melhor opção em lugar da quimioterapia.
*Ismael Dale Cotrim Guerreiro da Silva
é assessor médico do Fleury em Biologia Molecular.
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