Vacina recombinante contra o herpes-zóster apresenta maior eficácia

Indicação se estende a imunossuprimidos e mesmo a quem já teve a doença

Em junho de 2022, chegou ao Brasil e ao Fleury uma nova vacina contra o herpes-zóster (HZ), a Shingrix®, desenvolvida e comercializada pela GlaxoSmithKline (GSK) e aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, desde outubro de 2017.

Enquanto as demais vacinas atualmente utilizadas são  administradas a indivíduos suscetíveis para proteção contra  determinado patógeno e, portanto, visam a prevenir a infecção ou a doença primária, aquelas contra o HZ se direcionam a pessoas que já foram previamente infectadas pelo  vírus varicela-zóster (VZV) e abrigam sua forma latente,  tendo, assim, o objetivo de impedir a reativação do agente  na forma de zóster.

Sobre o herpes-zóster

Herpes-vírus de característica neurotrópica, o VZV causa  duas diferentes doenças: a varicela, que é a infecção primária pelo microrganismo, e o HZ, resultante da reativação e da subsequente replicação do vírus após períodos  variados de latência em que ele permanece nos gânglios  sensoriais. Tanto a recuperação da varicela quanto o bloqueio do despertar do vírus dependem da resposta imunológica mediada pelos linfócitos T.

O HZ se manifesta tipicamente por um exantema vesicular unilateral, limitado ao dermátomo inervado por  uma raiz dorsal ou nervo craniano, acompanhado frequentemente por uma dor neuropática bastante intensa,  capaz de persistir por semanas, meses ou anos, conhecida como neuralgia pós-herpética. Essa manifestação  neurológica configura uma das complicações mais incapacitantes da doença, particularmente em idosos e imunocomprometidos. Outros eventos graves que podem  decorrer do quadro incluem envolvimento oftalmológico, alterações neurológicas e maior risco de acidente  vascular cerebral.

O risco de desenvolvimento de HZ ao longo da vida  ultrapassa 30% e aumenta com a idade, a ponto de metade dos indivíduos com mais de 85 anos apresentar a  condição. Estudos mostram uma incidência global que  varia de 3-5/1.000 pessoas por ano na população geral e  de 5,23-10,9/1.000 pessoas por ano no grupo com idade  igual ou superior a 50 anos.

Sabe-se que o risco de HZ é determinado por fatores  que influenciam a relação vírus-hospedeiro, sobretudo a  integridade da imunidade celular. Portanto, idosos, devido à imunossenescência, e indivíduos imunossuprimidos,  seja por doença primária, seja por doença adquirida, seja  por medicação, constituem os principais grupos afetados. Ademais, determinantes genéticos também parecem estar envolvidos no risco de desenvolver o quadro.

Diversos estudos epidemiológicos têm mostrado um  aumento de casos de HZ nas últimas décadas, mesmo  em países onde quase não se observa mais a varicela.  Nesse cenário, a imunização para a população elegível  merece ser estimulada.

Ao contrário do imunizante antes disponível contra o HZ,  composto por vírus vivo atenuado, a Shingrix® é uma vacina  de subunidade portanto, um componente não vivo, que  contém a glicoproteína E (gE) recombinante associada ao  adjuvante AS01B. Elemento mais abundante no VZV e nas  células infectadas pelo vírus, a gE é essencial para a replicação e a disseminação viral, além de configurar o principal alvo da resposta imunológica  específica contra o agente mediada pelos linfócitos T CD4+.

Essa composição confere à  vacina recombinante contra o herpes-zóster (RZV, na sigla em inglês) um melhor perfil imunogênico. De fato, ensaios clínicos  randomizados e controlados  por placebo de fase 3 mostraram uma eficácia do produto  da ordem de 97,2% e de 89,8%  para a prevenção da doença em  adultos com idades iguais ou  superiores a 50 e 70 anos, respectivamente. Já em relação à neuralgia pós-herpética, tais  índices alcançaram 91,2% e 88,8%.

Dessa maneira, a Sociedade Brasileira de Imunizações  (SBIm) considera a RZV a vacina de escolha para prevenir  o HZ e suas complicações, recomendando o produto para todo adulto imunocompetente com  idade maior ou superior a 50 anos e  para pessoas em condições de imunossupressão a partir dos 18 anos.

Adultos imunossuprimidos  também podem (e devem!)  se imunizar contra o HZ

Em 2021, o FDA aprovou a RZV para uso em adultos com  18 anos ou mais que apresentam risco atual ou futuro  aumentado para HZ devido à imunossupressão causada  por doença conhecida ou tratamento.

Ensaios clínicos mostraram perfil de segurança e  imunogenicidade adequados em pacientes submetidos  a transplante autólogo de células-tronco hematopoéticas, em pessoas com tumores sólidos antes ou durante  a quimioterapia, em indivíduos com neoplasias hematológicas durante ou após terapia imunossupressora e em  transplantados renais cronicamente imunossuprimidos  e respaldaram a indicação.

O esquema de vacinação para essa população é o  mesmo preconizado para os imunocompetentes, entretanto há necessidade de orientações individuais, sobretudo relacionadas ao melhor momento para aplicação  do imunizante, de acordo com a condição de base.

Devido à sua maior eficácia, a  RZV está indicada inclusive para  aqueles que receberam previamente a vacina de vírus vivo atenuado, podendo ainda ser usada  em pessoas que foram imunizadas para varicela, desde que  respeitado, para as duas situações,  um intervalo de dois meses entre  as aplicações. Mesmo indivíduos  que já contraíram HZ têm a imunização com RZV recomendada após a resolução do quadro agudo.

A nova vacina herpes-zóster deve ser administrada por  via intramuscular, em duas doses, com intervalo de dois a seis meses entre elas. As principais reações  adversas incluem alterações no sítio de injeção, como dor,  eritema e edema, além de sintomas sistêmicos, como fadiga e  mialgia, que, contudo, são tipicamente autolimitados.


Referências

Harbecke R, Cohen JI, Oxman MN. Herpes zoster vacines. J Infect Dis.  2021 Sep 30;224(12 Suppl 2):S429-S442.

Sociedade Brasileira de Imunizações – Nota técnica 8/6/2022 –  Vacina herpes-zóster inativada recombinante (Shingrix®). Disponível  em https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/nota-tecnicasbim-vacinacao-herpes-zoster-shingrix-080622-v3.pdf

Dooling KL, Guo A, Patel M, et al. Recommendations of the Advisory  Committee on Immunization Practices for Use of Herpes Zoster  Vaccines. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2018;67:103–108CDC

National Center for Immunization and Respiratory Diseases, Division  of Viral Diseases. Clinical Considerations for Use of Recombinant  Zoster Vaccine (RZV, Shingrix) in Immunocompromised Adults Aged  ≥19 Years. Disponível em https://www.cdc.gov/shingles/vaccination/ immunocompromised-adults.html

Kimberlin DW, Whitley RJ. Varicella-zoster vaccine for the prevention  of herpes zoster. N Engl J Med. 2007 Mar 29;356(13):1338-43


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