O que nos faz únicos? | Revista Fleury Ed. 33

Muitos acreditam que o que o fator que nos torna únicos é nosso DNA. De fato, a sequência do genoma é específica para cada pessoa, mas há diversos outros fatores que se sobrepõem ao DNA e que também nos diferenciam na multidão.

Os elementos do nosso corpo que nos identificam.

Muitos acreditam que o que o fator que nos torna únicos é nosso DNA. De fato, a sequência do genoma é específica para cada pessoa, mas há diversos outros fatores que se sobrepõem ao DNA e que também nos diferenciam na multidão.

Se você se pergunta o que o faz ser diferente de todos, ao menos do ponto de vista físico, sua resposta está aqui.


Epigenética

“Os fatores epigenéticos estão literalmente acima do DNA”, diz Dr. Caio Robledo Quaio, médico geneticista do Fleury. São chamados assim os processos que não alteram a nossa sequência de DNA, mas aderem-se à cadeia e atuam no “ligar” e “desligar” dos nossos genes. “Os fatores epigenéticos modificam como as nossas sequências de DNA serão expressas e modulam os seus efeitos biológicos”, explica Dr. Caio. A ciência ainda está longe de compreender completamente como o nosso DNA é regulado por esses processos, mas se sabe que eles são complexos, ora aleatórios, e são diferentes mesmo em gêmeos idênticos, que apresentam a mesma sequência de DNA. Assim, a mesma sequência de DNA pode-se expressar de maneira distinta de uma pessoa para a outra e provocar efeitos completamente diferentes, por exemplo, na estatura, na forma da face e até mesmo na predisposição a doenças.


Arcada dentária

Na medicina legal, a identificação por arcada dentária ainda tem um uso importante. “O material do dente não decompõe rápido, então, em cadáveres, é o que está mais intacto”, explica Dr. Antônio José da Rocha, especialista em neurorradiologia do Fleury. A identificação é feita por comparação da documentação mantida pelos dentistas com a arcada encontrada no cadáver. Além do formato da arcada, ajudam nessa investigação todas as intervenções odontológicas, como obturações, coroas, prósteses e restaurações. Em alguns casos, até fotos da pessoa sorrindo podem ajudar.


Ilustração - Digital  
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Digital

As marcas que carregamos nas pontas dos dedos são únicas – nem mesmo gêmeos têm digitais iguais. “As nossas digitais decorrem de ondas de migração de nossas células epiteliais (da pele) durante o desenvolvimento embrionário. O modo como essas células migram e formam a nossa pele é distinto em cada indivíduo e é influenciado por diversos fatores genéticos, epigenéticos e ambientais”, explica Dr. Caio. Registros da utilização delas para identificação aparecem desde a pré-história. No Ocidente, os estudos de técnicas de reconhecimento das digitais são do século 17. E elas ainda são largamente utilizadas na identificação oficial: estão em nossos documentos, no controle de ponto em empresas, nos caixas eletrônicos de bancos, até mesmo em equipamentos eletrônicos, como notebooks.

Ilustração - Iris e retina  
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Íris e retina

Os olhos fornecem duas maneiras de identificação. Com a análise da retina, é feita uma leitura dos desenhos dos vasos sanguíneos dentro do olho, a partir de uma luz pulsada de baixa intensidade. Já a análise da íris identifica os anéis coloridos e pontos em volta da pupila, usando luz infravermelha. A íris também pode ser útil no diagnóstico de algumas condições genéticas. A íris de aspecto “estrelado”, por exemplo, é marca comum na Síndrome de Williams (doença decorrente da deleção de uma região do cromossomo 7), enquanto que a chamada heterocromia da íris (a presença de cores distintas) é muito característica da Síndrome de Waardenburg (doença associada a outras alterações pigmentares, de pele e cabelo, e à perda de audição).


Marcas pessoais

Com menos precisão, nossa aparência física também nos identifica. Já há sistemas de reconhecimento facial sendo desenvolvidos para ajudar a encontrar suspeitos em uma multidão, por exemplo. Tatuagens, manchas e pintas de nascença ainda são usados como forma de identificação de pessoas, além de assinaturas, voz e até mesmo a geometria da mão.

DNA

Quando a identificação por arcada não é possível, entra em cena o estudo de DNA. “O teste define a identidade de uma maneira muito segura, além de identificar também a prole, os familiares”, lembra Dr. Antônio. A medicina forense acumula histórias de crimes solucionados a partir de testes de DNA. O primeiro caso em que o DNA foi aceito na Justiça como evidência de um crime foi o de Leicester. Com o exame, foi possível identificar o autor dos estupros seguidos de mortes de duas adolescentes no condado de Leicester, no Reino Unido, nos anos 1980. Desde então, o teste ficou mais barato e seguro. Seu uso permitiu até mesmo a conclusão de casos antigos, libertando inocentes que estavam presos ou condenando criminosos que estavam soltos. Em 2009, por exemplo, o serial killer de Los Angeles John Thomas Jr. foi preso acusado de violentar e matar duas idosas nos anos 1970. Seu DNA havia sido encontrado nas cenas dos crimes, mas não havia tecnologia para comparar o material recolhido. Mais recentemente, as vítimas do acidente com o voo AF 447 da Air France foram identificadas com sucesso com o uso de DNA extraído dos ossos.

A história também se beneficiou dessa técnica. Um pesquisador da Universidade de Gales, Jan Bondenson, reuniu em seu livro Os grandes impostores os maiores mistérios de identidade históricos que puderam ser esclarecidos com o avanço da ciência, principalmente com os testes genéticos. Em uma das histórias, o suposto príncipe herdeiro da família real de Baden, o jovem Karpar Houser, foi desmascarado a partir do DNA. Uma mancha de sangue em uma roupa guardada em um museu alemão foi comparada ao DNA da realeza de Baden e comprovou-se que eles não têm relação.