Como ocorre a síndrome compartimental crônica

Ressonância magnética permite a confirmação da síndrome e é alternativa à manometria por agulha.

A síndrome compartimental crônica do exercício (SCCE) é uma afecção de prevalência crescente, caracterizada por distúrbios dolorosos dos membros, causados por aumento da pressão intracompartimental durante ou após a prática de atividade física.

Acredita-se que a combinação da diminuição da complacência, associada ao aumento do volume muscular durante o exercício, resulta em uma elevação suprafisiológica da pressão nos tecidos. Isso, por sua vez, leva à redução do retorno venoso e da perfusão capilar, resultando em uma hipóxia celular transitória. Esse processo ativa citocinas locais, estimulando os nervos fasciais e periosteais, desencadeando queixas álgicas durante as atividades físicas. Esse fenômeno não se limita apenas a esportes de alto rendimento, mas também pode estar relacionado a atividades menos extenuantes, como caminhadas, resultando em limitação funcional.

A SCCE afeta mais frequentemente os membros inferiores, na maioria dos casos, de forma bilateral, mas pode afetar outros grupos musculares como o atntebraço, mãos, coxa, pés e eretor da espinha.

Até pouco tempo, o diagnóstico era baseado na história clínica, exclusão dos diagnósticos diferenciais e, necessariamente, na mensuração invasiva por agulha da pressão tissular do compartimento, durante ou imediatamente após a realização do exercício físico.

O papel da ressonância magnética 

A ressonância magnética (RM) trouxe novas possibilidades a esse contexto, uma vez que, além de ser o melhor método para exclusão dos diagnósticos diferenciais, permite a confirmação da síndrome por meio da realização de sequências pós-esforço.

Em pacientes com SCCE, há um aumento considerável na quantidade de líquido dos músculos durante o exercício, maior que nos músculos não afetados, causando elevação significativa do sinal nas sequências sensíveis a líquido (ex: STIR).

Estudos realizados em pacientes com SCCE do compartimento anterior da perna, confirmada por manometria por agulha e com uma melhora substancial dos sintomas após a fasciotomia cirúrgica, indicam que a ressonância magnética (RM) pós-esforço é uma excelente alternativa não invasiva à manometria por agulha. Observou-se que, antes da intervenção cirúrgica, a intensidade do sinal dos músculos no compartimento afetado aumentava significativamente nas sequências pós-exercício, em comparação com o compartimento não afetado. Após a fasciotomia, observou-se redução na intensidade do sinal (tabelas 1, 2 e 3). Essas avaliações foram realizadas sem a necessidade do uso de contraste endovenoso paramagnético (gadolínio).


Avaliação dos pacientes com SCCE no Fleury

Para casos com suspeita de SCCE, o Fleury utiliza um protocolo específico, no qual os pacientes são orientados e acompanhados por médicos especialistas em diagnóstico osteomuscular, de forma presencial e integral, durante toda a realização do estudo. Para tanto, recomenda a suspensão de atividades físicas nas 72 horas anteriores ao exame. Na primeira fase da RM, são obtidas diversas sequências, em diferentes planos e ponderações, com o objetivo de fazer uma ampla avaliação da região, o que auxilia a detecção de outros possíveis diagnósticos diferenciais.

Após a conclusão desta etapa, o paciente é direcionado para a prática de exercícios físicos adequados às suas capacidades. Podem incluir caminhadas ou corridas em esteira próxima ao aparelho de ressonância magnética (RM) ou outros exercícios que possam desencadear dor, sendo realizadas até o limite de dor tolerável pelo paciente e apresentando duração variável. A seguir, retorna-se imediatamente ao aparelho de RM, sem intervalo, para a aquisição de sequências STIR pós esforço, específicas para o diagnóstico da SCCE.

O protocolo feito no Fleury, portanto, permite a exclusão dos diagnósticos diferenciais e a confirmação da SCCE de forma não invasiva, mantendo a acurácia e possibilitando ao médico especialista a escolha da melhor opção terapêutica para cada paciente.

Consultoria médica:

Dr. Alipio Gomes Ormond Filho
Coordenador do Centro Avançado de Diagnóstico por imagem Osteomolecular
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Dra. Damaris Versiani Caldeira Gonçalves
Consultora médica do Centro Avançado de Diagnóstico por Imagem Osteomolecular
[email protected] 

Dra. Isabela Azevedo Nicodemos da Cruz
Consultora médica no Centro Avançado de Diagnóstico por imagem Osteomolecular
[email protected]