A catástrofe natural ocorrida no Rio Grande do Sul no ano passado colocou no centro da pauta uma velha conhecida dos infectologistas: a leptospirose, infecção bacteriana transmitida pela urina de ratos infectados, que frequentemente causa surtos em localidades que passaram por enchentes de grandes proporções. Naquele Estado, houve 1.313 casos confirmados da doença em 2024, com 53 óbitos registrados*.
Apesar do alto nível de suspeição diante de um quadro febril nesse contexto epidemiológico, a confirmação laboratorial pode vir tardiamente, considerando que os métodos de pesquisa direta e a cultura, úteis na fase precoce da doença, podem exibir baixa sensibilidade e enfrentar dificuldades inerentes à sua complexidade, enquanto a sorologia requer a coleta pareada de amostras com intervalo de, pelo menos, duas semanas.
Nessa conjuntura, adquire importância a PCR em tempo real, que pode ser utilizada para detectar o DNA da bactéria Leptospira spp. no plasma, especialmente na primeira semana da doença, ou na urina, a partir da segunda semana. Há estudos que demonstram que, além de permitir o diagnóstico mais precoce, a PCR se mostra mais sensível que a pesquisa de IgM nos primeiros sete dias de infecção. Se a amostra for coletada nos primeiros três dias, sua sensibilidade pode chegar a 90%.
Vale observar que, num cenário de alta incidência, resultados negativos não descartam a leptospirose e devem ser avaliados juntamente com a história clínica do paciente. Por outro lado, indivíduos que preenchem os critérios clínico-epidemiológicos de caso suspeito podem ter indicação de tratamento empírico nas situações em que haja dificuldade de acesso à realização ou ao resultado dos exames, a fim de prevenir ascomplicações evolutivas da doença.
*Fonte: Sinan/SVSA (dados atualizados em 15/1/2025).
Tabela comparativa entre os métodos diagnósticos para investigar a doença
Exame | Cultura | Teste molecular para leptospirose | Pesquisa direta | Sorologia (IgM) |
Material | • Urina (ideal) • Sangue • Liquor • Líquido de diálise peritoneal | • Urina • Plasma | • Urina (ideal) • Sangue • Liquor • Líquido de diálise peritoneal | • Soro |
Método | • Meio EMJ | • PCR em tempo real | • Pesquisa do agente em microscopia de campo escuro e após coloração pelo método de Fontana Tribondeau | • Reação imunoenzimática (Elisa) |
Resultado | • Até 20 dias úteis | • Em até três dias úteis, sem contar sábados | • Em até dois dias úteis (incluindo sábados) | • Em até dois dias úteis, sem contar sábados |
Interpretação | • No sangue, precisa de, pelo menos três semanas de incubação • A positividade é maior durante a primeira semana da doença. Após uma semana do início dos sintomas, a urina configura o material mais adequado • Trata-se de um teste de exceção, dado seu longo tempo de resposta e baixa sensibilidade • Um resultado negativo não descarta a hipótese de leptospirose | • Realizada preferencialmente na primeira semana do início dos sintomas • A excreção da bactéria na urina pode continuar, após o desaparecimento dos sintomas, por uma semana ou, mais raramente, por alguns meses • Resultados negativos não descartam o diagnóstico de leptospirose | • Apresenta baixa sensibilidade • Indicada na primeira semana de doença • Na urina, as leptospiras geralmente estão presentes após a primeira semana de infecção, quando já desapareceram do sangue, e existe a possibilidade de que continuem a ser excretadas por um período de dois a três meses • Um resultado negativo não descarta a hipótese de leptospirose | • A pesquisa de anticorpos IgM é útil para o diagnóstico precoce da leptospirose, para o qual são significativos índices superiores a 2,0 • É possível detectar os anticorpos IgM de quatro a cinco dias depois do surgimento dos sintomas clínicos, que podem persistir por cerca de cinco meses após o estímulo • O teste tem sensibilidade de aproximadamente 70% (nos primeiros dias de sintomas), aumentando para 100% em exame realizado da segunda semana em diante. A especificidade chega a 94% |
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Avaliação complementar da análise histológica convencional de lesões pré-neoplásicas e neoplásicas.
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