A alopecia androgenética, conhecida popularmente como calvície, é um tipo de alopecia não cicatricial, contínua e progressiva, considerada a principal causa de queda de cabelos em homens e mulheres. No sexo masculino, os sintomas surgem geralmente entre os 20 e 25 anos, enquanto, no feminino, a faixa etária de início do quadro vai dos 30 aos 35 anos.
Nos homens, observa-se maior prevalência na etnia caucasiana e ao redor dos 70 anos. Nessa mesma idade, a frequência de alopecia androgenética em indivíduos de etnia asiática é um pouco menor, de cerca de 45% a 60%. Já nas mulheres, a prevalência e a gravidade do quadro aumentam com o envelhecimento. Na etnia caucasiana, a frequência da condição é de 3% a 6% abaixo dos 30 anos, elevando-se para cerca de 30% a 40% após os 70 anos.
Etiologia
No ciclo normal de crescimento do cabelo, cerca de 80% a 90% dos fios encontram-se na fase anágena (proliferação), menos de 5% estão na fase catágena (involução) e o restante, na fase telógena (período de repouso). Durando em torno de dois a seis anos, a fase anágena determina o comprimento do fio, de modo que, quanto maior ela for, maior será o comprimento do fio. Considera-se normal uma queda de até cem fios por dia.
Na alopecia androgenética, ocorre uma alteração no ciclo do cabelo, com término prematuro da fase anágena e aumento da fase telógena, o que leva a um afinamento e a uma diminuição no tamanho dos fios (miniaturização). A miniaturização não ocorre em todos os fios ao mesmo tempo dentro de uma unidade folicular, ou seja, observa-se sobretudo uma redução, que inicialmente resulta em afinamento difuso e, com a progressão do quadro, em falhas cada vez maiores.
A condição caracteriza-se clinicamente por queda de cabelo, com um padrão de distribuição característico, em pessoas com histórico familiar dessa doença, como pai, mãe, irmãos e avós. Em gêmeos, há forte predisposição genética, com mínima influência do ambiente.
Nos homens geneticamente predispostos, os fios de cabelo sofrem um efeito exacerbado dos androgênios, mediado por um aumento da densidade do receptor androgênico e da atividade da 5-alfa-redutase tipo II.
Nas mulheres, o papel dos androgênios é menos definido e outros possíveis fatores podem estar envolvidos, como desregulação hormonal. Não há muitos estudos sobre o envolvimento genético nesse grupo, embora se sugira que ambos os sexos compartilhem o mesmo modelo genético, porém a predisposição genética para a ocorrência da queda de cabelo parece mais forte nas mulheres que nos homens. Observa-se maior incidência de queda de cabelo na presença de história familiar de parentes de primeiro grau do sexo masculino ou feminino com mais de 30 anos e que apresentam padrão de queda de cabelo similar.
Diagnóstico
O diagnóstico da alopecia androgenética é feito por um médico dermatologista especialista em tricologia por meio de anamnese, de exame clínico e da tricoscopia, um exame auxiliar.
É importante verificar, na anamnese, a idade em que a queda começou a ocorrer, a forma como se dá a perda de cabelo (intermitente ou crônica), a história familiar, a presença de doenças que possam causar esse sintoma, a exemplo de infecção grave, deficiência de ferro e distúrbios da tiroide, bem como a presença de manifestações clínicas associadas, como o prurido. Destaca-se que a ausência de história familiar de queda de cabelo não exclui o diagnóstico de alopecia androgenética. Outros aspectos importantes incluem a investigação sobre alergias, hábitos alimentares, estilo de vida, tabagismo e uso de drogas e de medicamentos.
Nas mulheres, deve-se também questionar a história ginecológica, o que inclui informações sobre ciclo menstrual, uso de contraceptivos hormonais e de terapia de reposição hormonal, tratamentos para fertilidade, gestações, sintomas de hiperandrogenismo ou dermatite seborreica.
No exame clínico, a avaliação do couro cabeludo auxilia a identificar o padrão da queda de cabelo, assim como a presença de sinais inflamatórios ou de outras doenças – como a dermatite seborreica e o hiperandrogenismo (nas mulheres).
Em homens, esse tipo de alopecia acomete a porção frontal, formando as famosas entradas, o vértex (coroa) ou toda a região (calvície total). Já nas mulheres, o acometimento é mais difuso, na região do topo do couro cabeludo, com preservação da linha de implantação frontal do cabelo, podendo ainda envolver as regiões parietal e occipital. Em cerca de 10% dos pacientes do sexo masculino, o padrão de queda de cabelo é semelhante ao das pacientes do sexo feminino.
Tricoscopia
Também denominada mapeamento digital do couro cabeludo, a tricoscopia consiste em um método diagnóstico não invasivo de grande valia para reconhecer a queda de cabelo. O exame é feito com o auxílio de um aparelho com lentes que aumentam de 20 a 70 vezes as imagens e com luzes polarizadas, possibilitando a avaliação do quadro de alopecia e a análise da haste capilar, de aberturas foliculares e de estruturas vasculares da região, fornecendo informações sobre a qualidade e quantidade de fios da área acometida.
O número de unidades foliculares por abertura e a heterogeneidade das espessuras das hastes são critérios avaliados pela tricoscopia para o diagnóstico diferencial entre alopecia androgenética e eflúvio telógeno.
O exame também é útil não apenas para o diagnóstico, mas também para o acompanhamento do caso, podendo observar se houve progressão do quadro, com aumento de fios miniaturizados ou diminuição da quantidade de fios por unidade folicular. Ainda pode ser de grande valia para avaliar o resultado dos tratamentos por meio da mensuração da quantidade de fios por unidade folicular e das espessuras das hastes.
Análises clínicas
De modo geral, não há necessidade de testes laboratoriais para o diagnóstico da alopecia androgenética. Por outro lado, dependendo da história clínica – por exemplo, quando existe suspeita de alguma doença associada ou subjacente –, exames complementares são direcionados para o esclarecimento da condição suspeitada.
Para ajudar o clínico no diagnóstico diferencial de eflúvio telógeno, as dosagens de hormônio tiroestimulante (TSH), ferro sérico e ferritina sérica são importantes. Nas mulheres com sinais e sintomas de hiperandrogenismo, de acordo com cada caso, dosagens hormonais têm utilidade, como testosterona total e sulfato de desidroepiandrosterona (SDHEA). Destaca-se que, nos homens com alopecia androgenética, os níveis de androgênios mostram-se normais.
Biópsia
Nos casos de dúvida diagnóstica, a biópsia do couro cabeludo pode ser realizada. Nesse sentido, a tricoscopia também ajuda a identificar e marcar a região de maior acometimento durante o exame para que o médico colha as amostras para análise histológica.
Resumo
A alopecia androgenética é considerada a principal causa de queda de cabelos em homens e mulheres, tendo a predisposição genética como importante fator determinante. O quadro é progressivo, com a queda de cabelo se tornando mais proeminente quanto mais cedo os sintomas surgem. O diagnóstico é essencialmente clínico, com a utilização da tricoscopia para a avaliação detalhada do couro cabeludo. Quanto mais precoce a condição é detectada e tratada, melhores são os resultados, evitando a perda dos folículos pilosos e recuperando o volume e a qualidade dos fios do cabelo.
Consultoria médica
Dra. Andressa Sato Aquino Lopes - Consultora médica em Dermatologia e Tricoscopia
[email protected]
Dra. Lilian Licarião Rocha - Consultora médica em Dermatocospia e Microscopia Confocal
[email protected]
Referências
Blume-Peytavi et al. the European Consensus Group. S1 guideline for diagnostic evaluation in androgenetic alopecia in men, women and adolescentes. Br J Dermatol. 2011;164(1):5-15.Mulinari-Brenner et al. Entendendo a alopecia androgenética. Surg Cosmet Dermatol. 2011;3(4):329-37.
Especialistas referência compartilham experiências em casos clínicos nos quais o teste os auxiliou
O tumor é o que mais afeta o sexo masculino, demandando estratégias combinadas para sua abordagem
Conheça os imunobiológicos que oferecem proteção contra a infecção por esse patógeno
Participação incluirá aulas e apresentação de pôsteres.