A relação causa-efeito entre as alterações patológicas estruturais cerebrais e as crises epilépticas tem sido reconhecida por mais de 100 anos, embora os mecanismos que as relacione não estejam completamente esclarecidos. Por exemplo, nos pacientes que apresentam crises epilépticas primariamente generalizadas e alterações cerebrais focais, fica difícil postular uma relação causa efeito satisfatória. Este capítulo se restringe aos aspectos de imagem em RM em síndromes epilépticas focais recorrentes, que tenham substrato histopatológico conhecido. O termo que será usado, substrato epileptogênico, indica a anormalidade patológica associada a crises parciais, e que pode ser acessado por estudo histológico do tecido ou por técnica de imagem. Em termos de modalidade de imagem, a RM será abordada preferencialmente em relação à TC devido a sua maior sensibilidade e acurácia, a despeito de algumas alterações poderem ser prontamente visualizadas pela última.
A RM tem se mostrado uma ferramenta indispensável na avaliação das epilepsias de difícil controle, principalmente a partir da metade da última década. Seus achados podem direcionar os procedimentos clínicos e cirúrgicos, bem como as técnicas de ressecção, auxiliando na avaliação prognóstica pós-operatória das crises. O papel da RM é localizar o substrato epileptogênico e definir sua natureza dentre dos cinco maiores grupos anatômicos: neoplasias, malformações vasculares, esclerose mesial temporal, anormalidades glióticas (secundária a trauma, infecção, inflamação ou infartos) e malformações do desenvolvimento cortical (também chamadas disgenesias corticais).