A mielofibrose com metaplasia mielóide agnogênica é doença clonal hematopoética classificada como síndrome mieloproliferativa crônica maligna, ao lado da leucemia mielóide crônica (LMC), policitemia vera (PV) e trombocitemia essencial.
Embora a mielofibrose possa ser observada numa variedade de insultos primários ou secundários à medula, a metaplasia mielóide agnogênica engloba tanto doença mieloproliferativa específica, como fases avançadas da policitemia vera e tromobocitemia essencial.
As anormalidades hematológicas decorrem de alteração em célula progenitora hemopoética pluripotente e os fibroblastos medulares não derivam de clone de células anormais, sendo sua proliferação nada mais do que efeito secundário da hiperplasia medular. Tal proliferação estaria mediada por citocina derivada de megacariócitos, denominada fator de crescimento transformante beta (TGF-beta), que é secretada pelo sistema monocítico-macrofágico, células endoteliais e megacariócitos.
Cerca de um terço dos pacientes são assintomáticos e o diagnóstico é feito ocasionalmente pela presença de esplenomegalia e de alterações hematológicas.
Petéquias ou equimoses devidas a plaquetopenia ou a defeitos qualitativos das plaquetas são freqüentes. A esplenomegalia está presente em todos os pacientes, podendo atingir, em dois terços dos casos, todo o hemi-abdome esquerdo, devido a metaplasia mielóide e aumento do fluxo sanguíneo para esse órgão
A anemia é normocrômica e normocítica e de etiologia multifatorial. Leve reticulocitose é observada. A contagem de leucócitos está habitualmente elevada e a leucopenia é observada em apenas 15% dos casos, com a presença, no sangue periférico, de granulócitos imaturos e eritroblastos.
Plaquetopenia está presente em um terço dos casos, como também plaquetose, que pode atingir valores superiores a 600.000/mm3, em 10% dos pacientes. Caracteristicamente, há hemácias com forma de “chama de vela”, que após a esplenectomia tendem a desaparecer ou a diminuir em número, fato sugestivo de que ocorre agressão durante a circulação esplênica, responsável por essa deformação eritrocitária. Há também eliptócitos e poiquilocitose e observam-se precursores granulocíticos e eritrocíticos no sangue periférico.
O mielograma feito por punção aspirativa é habitualmente hipocelular ou seco, podendo ser, em 10% dos casos, hipercelular e, em 5%, normocelular. Pode haver aumento do número de megacariócitos.
O melhor recurso para comprovação diagnóstica na MF é o estudo da medula óssea obtida por biópsia. Podem ser distinguidas 3 fases da mielofibrose pela histologia da medula. A primeira, fase celular, caracteriza-se por hipercelularidade com proliferação de todas as séries da medula e aumento da medula hematopoética em relação à gordura. Há grande número de megacariócitos, geralmente agrupados. A impregnação pela prata revela aumento de fibras de tecido conjuntivo que formam um padrão reticular. A segunda fase é a mielofibrose sem osteoesclerose, onde os espaços gordurosos estão praticamente ausentes e os megacariócitos são mais proeminentes. Por fim, a terceira fase, mielofiborse com osteosclerose é a derradeira da doença. Há aumento no número e espessura das trabéculas ósseas que circundam os espaços medulares além de proliferação endosteal tanto na trabécula como na córtex com deposição de osso neoformado.
Habitualmente tem-se alguma dificuldade na obtenção de amostra de medula para análise citogenética devido à punção seca, sendo mais freqüentemente alcançado resultado quando se utiliza fragmento de biópsia para estudo.
Aproximadamente 50 a 60% dos pacientes com MF têm alteração de cariótipo, ao diagnóstico, sendo mais freqüentes: +8, +1q, +9, +21 e 13q-.
DHL está freqüentemente elevada assim como a uricemia. Pode haver diminuição da albumina e do colesterol séricos.