Policitemia vera é doença caracterizada pela expansão clonal de célula hemopoética primitiva pluripotente com proliferação desregulada das linhagens granulocítica, megacariocítica e eritrocítica.
O diagnóstico é feito mediante achados como a presença de poliglobulia, leucocitose e plaquetose. Há duas fases bem distintas: a proliferativa ou policitêmica associada a aumento da massa eritrocitária e a fase de exaustão, pós policitêmica ou de fibrose, onde a citopenia é devida à fibrose medular com hematopoese extra-medular e hiperesplenismo.
O hemograma na fase policitêmica apresenta poliglobulia, leucocitose e plaquetose. Pode haver neutrofilia e basofilia com algumas formas imaturas. Na fase pós policitêmica ou de fibrose observa-se pancitopenia com reação leucoeritroblástica, poiquilocitose e dacriócitos. Se houver deficiência de ferro devido a sangramentos, os eritrócitos pode mser hipocrômicos e microcíticos.
Há aumento da celularidade medular, inclusive do setor megacariocítico, com diminuição da quantidade de gordura, aumento das fibras de reticulina em cerca de 40% dos casos, ao diagnóstico, e ferro medular diminuído em 95% dos pacientes.
A biópsia de medual óssea na fase policitêmica apresenta proliferação eritróide normoblástica. A celularidade está aumentada por proliferaçãode todas as séries, isto é, panmielose. Não há aumento da porcentagem de blastos. Os megacariócitos estão aumentados em número e dispostos ao redor dos sinusóides medulares ou próximo a trabéculas ósseas, com aspecto pleomórfico, de tamanho variado. O núcleo é polilobulado, mas sem características bizarras. A coloração pela prata mostra reticulina normal em 70% dos pacientes e nos demais, fibrose em graus variados. Ausência de ferro corável na medula é observada em mais de 95% dos casos. Na fase fibrótica a característica é o aumento das fibras de reticulina e colágeno. A celularidade varia, mas amostras hipocelualres são comuns. Há vários agrupamentos de megacariócitos geralmente com núcleos dismórficos e hipercromáticos. A eritropoese e granulopoese estão diminuídas. Também pode haver osteosclerose.
Alterações citogenéticas estão presentes em cerca de 20 a 43% dos pacientes ao diagnóstico e esse número se eleva com o decorrer da doença, sendo as alterações mais freqüentes: +8, +9 e 20q-.
A eritropoetina sérica (Epo) está baixa ou ausente e CFU-E e BFU-E crescem, in vitro, na ausência de eritropoetina.
Há hiperuricemia, hiperbilirrubinemia, VHS diminuído, B12 sérica e capacidade de ligação de B12 aumentada, fosfatase alcalina de neutrófilos (FAN) aumentada na maioria dos pacientes, tempo de sangramento normal, mas agregação plaquetária alterada in vitro. TP e TTPA podem ser anormais nos pacientes com hematócrito elevado.
Para o diagnóstico deve ser comprovada presença de população celular clonal na medula, por exemplo, por cariótipo, bem como a presença de Ht >60% sem necessidade de aferição da massa eritrocitária.
Os novos parâmetros propostos para formulação diagnóstica são:
• A1 = massa eritrocitária aumentada (>25% do valor médio esperado) ou Hb > 18,5g/dl em homens e 16,5g/dl em mulheres;
• A2 = ausência de causa para policitemia secundária, incluindo:
ausência de eritrocitose familial
ausência de aumento de eritropoetina devido a hipóxia arterial, hemoglobina afinidade elevada por O2, receptor de eritropoetina alterado ou produção inapropriada de eritropoetina por tumor;
• A3 = esplenomegalia;
• A4 = marcador de clonalidade, na ausência de cromossomo Ph ou rearranjo BCR/ABL;
• A5 = formação de colonia endógena eritróide in vitro;
• B1 = plaquetas > 400x 109/l;
• B2 = leucócitos > 12x 109/l;
• B3 = biópsia de medula óssea mostrando panmielose com proliferação eritróide e megacariocítica;
• B4 = Eritropoetina sérica diminuída.
Considera-se portador de PV quem apresentar: A1+A2 ou qualquer outro critério A ou A1+A2 e dois critérios B.
A doença tem fase pré-sintomática seguida da fase eritrocítica e então pode evoluir para fase de fibrose com metaplasia mielóide, para leucemia aguda primária ou leucemia mielóide secundária ao tratamento ou, ainda, síndrome mielodisplásica.